Ontem me encontrei com um cara que saio de vez em quando. Ele me chamou no WhatsApp e perguntou se eu tava de bobeira em casa. Disse que sim, daí ele me convidou para ir no seu apartamento. Transamos, como sempre. Foi uma delícia, mas depois me bateu um vazio no peito, uma angústia e uma sensação de que não deveria estar ali…
O relato acima é de um cliente, mas vamos falar sério: poderia muito bem ser seu, meu ou do seu melhor amigo.
Não é novidade para ninguém que nós vivemos a geração do fast tudo!
Deu fome? Só chamar um delivery. Quer uma brusinha da moda? Só acessar o e-commerce de uma loja de departamentos que a última tendência está por lá. O trabalho tá insuportável? Só sair e partir para outro. O curso da faculdade não tá correspondendo às expectativas? Só trancar e começar outro, oras!
Tudo tão fácil e no instante que quisermos.
A geração fast tudo quer frango, mas, 10 segundos depois, quer o filet. Fica olhando o menu, em dúvida. Escolhe o filet. Um minuto depois lembra que tinha também peixe e quer trocar. Liga na tele-entrega e muda o pedido. Daí a comida chega e fulano não se sente satisfeito porque, desde o início, o cérebro apontava para o frango, mas se deixou envolver pela foto do peixe…
Tudo bem, não tem problema. No outro dia ele liga e pede a porra do frango. Fica tudo certo.
E assim acontece com os relacionamentos.
Tá se sentindo sozinho? É só ativar o boy mais próximo pelo app, jogar meia dúzia de conversa fora e partir para o abate. Funciona que nem o delivery: a “presa” chega na sua casa, você come e descarta.
Pessoas da geração fast são assim: indecisas, não conseguem ter paciência, esperar, persistir. São impulsivas, não controlam as emoções e se envolvem em ciladas emocionais porque não sabem nem ao certo o que querem…
Resultado?
Cortam uma relação que está legal porque têm medo de que ela fique mais legal ainda. Dar certo é a pior coisa que pode acontecer.
Porque dar certo é ter algo bom para se acostumar, talvez se tornar dependente e, consequentemente, sofrer caso acabe.
Esse medo de depender, de precisar, de se comprometer e depois quebrar a cara faz com que muita gente prefira nem começar nada.
Pra que correr o risco de se machucar, né? Bem mais fácil ficar de boa conhecendo gente nova toda a semana.
Daí a solução para isso tudo, claro, é o sexo casual. Não tem carinho, nem intimidade, mas também não tem vínculo, nem sofrimento.
Tranquilo. Certo?
Nem tanto…
CUIDADO: você pode estar caindo na armadilha da felicidade momentânea!
Sabe quando uma coisa é tão boa, mas tão boa, que, quando termina, você fica triste e melancólico – quase como uma criança quando tiram o doce da boca?
Lembra da sensação de quando você fez aquela viagem dos sonhos, programada durante longos meses, e, de repente, ela terminou? Você voltou para casa e tudo estava lá do mesmo jeito: mesma vidinha mais ou menos, mesma rotina, mesmos problemas.
O que você sentiu?
Pois é! O que acontece com o sexo fácil não é diferente…
Já percebeu que sexo virou quase um tarja preta? “Tô numa bad hoje, me sentindo sozinho, então vou chupar uma piroca pra ver se passa…”
Não, gato! Close erradíssimo!
Conhecer alguém numa balada e acordar num motel, de ressaca, sem graça, sem nem saber o nome ou lembrar o que aconteceu, poderá até te proporcionar boas horas de diversão. Mas, não se engane: nada disso acabará com os seus problemas.
Não, não adianta correr para o Grindr, caprichar na chuca e terminar a noite com gosto de rola na boca…
E não me entenda mal: nada contra o sexo hardcore-pega-pra-capar. Nada contra mesmo. Aliás, muitos pontos a favor.
Só que, se você não é tão bem resolvido assim com a sua solteirice e busca sentimentos reais, tudo isso não passará de uma baita válvula de escape.
Sim! Aquilo que, de verdade, está te incomodando, aquela angústia e dor no peito que você sente, continuará aí.
E sabe por quê?
Porque esse cara não vai te dar o que você precisa e, provavelmente, vai sumir no dia seguinte.
Por isso, eu te pergunto: essa foda sem compromisso vale a pena?
Você poderá me responder que vale, sim. Que aliviar as tensões é tudo que você precisa. E eu te direi que, se esse é o caso, ótimo!
Agora, se cada encontro sem perspectivas só faz com que você se sinta ainda mais sozinho, é hora de rever a sua vida sexual (casualmente) ativa. Não acha?
Somos bombardeados com essa ideia de que transar sempre e transar muito é preciso. Que quem não transa é um perdedor, um coitado.
Tem até um ditado que diz que “sexo até quando é ruim é bom”.
Nada menos surpreendente que, quando fica difícil lidar com as próprias inseguranças, muita gente recorra ao sexo fácil. Mesmo se ele for vazio. Mesmo se ele não significar muito mais que uma punheta terceirizada ou a junção de dois corpos na busca de uma gozada…
Claro que transar faz bem para a saúde, para a pele, para controlar o stress. Mas a pergunta é: sexo por sexo faz bem para a sua autoestima?
Sexo por sexo faz você se sentir mais admirado? Mais respeitado? Mais protegido? Mais amado? Mais completo?
Homofobia internalizada, medo de relacionamento, falta de autoconfiança… Seja qual for o seu problema, essas questões não se resolvem sozinhas. E, quanto mais tempo você demorar para solucioná-las, mais se afastará da sua real felicidade.
Então, não importa há quanto tempo você esteja na seca: não se doe para qualquer cara que te enviar um emoticon safado, se não conseguir lidar com o fato de que esse encontro pode deixar um vazio depois do gozo.
Faça sexo casual, sim, mas sempre que isso te fizer bem. Nunca para tentar se sentir bem. #ficaadica