Fernando (nome fantasia para preservar a identidade do amigo) é um baita garanhão. Dona Maria, a sua vizinha de porta, que o diga! Pelo menos uns 3 caras diferentes por semana cruzam com ela pela manhã no elevador e dão aquele “bom dia” constrangedor.
Corpo sarado, abdômen definido, dentes branquíssimos e pouco tempo a perder. Assim é o Fê! Se você esbarrar alguma vez com ele no Grindr, verá que é bem direto ao ponto: ativo ou passivo, aqui ou aí?
E, se a sua forma física não for das mais bonitas, melhor nem puxar conversa. Ele só transa com caras musculosos como ele. Já virou praticamente uma regra, um pré-requisito.
A sua vida esportiva está em dia e a sua barriga cheia de quadradinhos? Muito bem! Então, poderá se relacionar com o Fernando. Mas, cuidado: não se envolva! Não espere mais do que um sexo sem compromisso.
Ele não quer relacionamento sério. Quer só colecionar aventuras com homens gostosos. Quer só se divertir. Quer só aproveitar a vida.
Pelo menos isso é o que ele diz…
Você nunca imaginaria, mas, por trás das curvas perfeitas e da maneira decidida de conhecer e dispensar pessoas, mora alguém frágil, carente e extremamente inseguro.
Em um relacionamento sério comigo mesmo. Será?
Sou a primeira a concordar que, antes de ser feliz com alguém, é preciso ser feliz sozinho. Aquela história do “em um relacionamento sério comigo mesmo” tem um fundo de verdade, sim.
O primeiro – e mais importante – amor que deve existir é, indiscutivelmente, o amor próprio.
Agora, vejo como um pouco contraditório querer estar sozinho e, ao mesmo tempo, ter sempre um parceiro diferente do outro lado da cama (nem que seja para uma rapidinha casual).
Não será essa necessidade incansável de sexo e corpo bonito uma forma de buscar aceitação e autoafirmação?
O jogo da autoafirmação
Eles não querem compromisso, mas precisam transar com frequência – e com caras gatos, claro – para comprovar que são desejados e cobiçados.
Funciona mais ou menos assim: cada foda é encarada como uma relação de poder: “eu tô comendo um boy gostoso, eu sou o máximo, eu sempre soube”.
Tudo se torna, então, um jogo de autoafirmação, em que o objetivo principal é acabar com o sentimento de inferioridade cultivado na infância e na adolescência.
A conquista e a intimidade sexual, além de prazerosas, fazem caras assim se sentirem vencedores. Daí a “partida” termina e a próxima etapa é rumar para outra aventura, se possível mais difícil, com um homem ainda mais gostoso.
E é assim, com essas experiências vazias, que o ego dos falsos garanhões se infla.
A falsa autoestima
Sim, falsos garanhões. Sinto muito em falar…
Sabe por quê?
Porque apenas pessoas com baixa autoestima precisam desesperadamente da validação dos outros.
A falsa autoestima é como uma imagem que alguns criam para se proteger. Dessa maneira, eles fingem para os outros e, principalmente, para si mesmo que não têm problemas de segurança.
Muitas vezes, caras assim nem têm conhecimento da própria falta de estima. Isso porque as ferramentas que usam para esconder a verdade enganam até a eles mesmos.
Você consegue identificar um boy bonitão com falsa autoestima quando ele se sente incomodado com toda e qualquer imperfeição que encontra em si – seja estar com uns quilinhos a mais, sem boas roupas ou, simplesmente, despenteado.
Boys assim se apegam tanto à imagem porque, no fundo, duvidam do seu próprio valor.
Além disso, uma boa parcela dos gays valoriza tanto o corpo porque é muito mais simples malhar o tríceps do que a cabeça… Bem mais fácil esconder os problemas por baixo de uma imagem modelo fitness, não é?
Por isso é tão difícil encontrar gays que exercitem ambos, corpo e mente.
Não tô dizendo aqui que todo cara que se preocupa com a aparência é problemático. Claro que não! Mas aquele que faz dela um pré-requisito para ser feliz, esse sim.
(E que fique bem claro que isso não é uma realidade exclusiva dos homossexuais!)
Leia também:
[Eu não me enquadro nos padrões de beleza do mundo gay. E agora?]
Recado aos “Fernandos” deste Brasilzão:
Se existe uma beleza que vocês devem buscar incansavelmente, é a beleza interior. É ela que vai fazer a diferença na hora de conquistar os seus objetivos de vida, sejam eles quais forem.
Bumbum duro, ombros largos e barriguinha trincada? Isso até é bonito, mas não dura por muito tempo.
Lembrem-se: depois de certa idade, o que fica mesmo é o que está do lado de dentro.