Eles adoram uma mão boba de outro homem, uma carícia safada e uma boa brincadeira entre espadas. Boquete então, nem se fala: caem de boca na rola alheia e deixam, sem constrangimentos, que a sua seja apreciada pelos lábios de outros boys como o mais saboroso picolé.
Seriam considerados gays, não fosse um detalhe: quando chega o tão esperado momento do “entra e sai”, fazem toda uma linha “João Kebler” e pedem para parar tudo.
Afinal, se não há penetração, também não há homossexualidade…
Pelo menos é isso que acreditam os G0ys: homens que mantêm relações amorosas com outros homens e não se consideram homossexuais.
Wtf? Desde quando isso existe?
O movimento surgiu nos Estados Unidos no início dos anos 2000, nas fraternidades masculinas universitárias entre skatistas e surfistas, e já se espalhou rapidamente pelo mundo.
Não se sabe ao certo a origem da expressão g0y, apenas que ela nasceu por volta dessa época e que a substituição do “a” pelo zero é proposital mesmo. De acordo com o site g0ys.org, a grafia salienta que os g0ys são homens que não se identificam com os valores e os comportamentos da comunidade gay.
O grupo reforça que na Grécia antiga esse hábito entre homens era normal, portanto, seria uma espécie de resgate de “comportamentos saudáveis e bons que já existiam no passado”.
No Brasil, o site heterog0y é mantido por internautas de Salvador, Belo Horizonte e Florianópolis. Segundo eles, g0y é um heterossexual mais liberal, que apenas faz “brincadeiras sacanas” com outros homens. A penetração, entretanto, é prática reservada exclusivamente para mulheres.
Como funciona?
Os adeptos ao movimento garantem que estão fora das normas homossexuais e heterossexuais solidificadas na sociedade. Eles se definem, de maneira simples, como homens que se permitem demonstrar carinho e sentimentos por outros.
Entre os g0ys, não há ativo ou passivo: acontece tudo de igual para igual. Na maioria das vezes, os relacionamentos acontecem entre amigos íntimos, geralmente entre colegas de faculdade, de trabalho e contatos feitos pela internet.
E se você pensa que estamos falando de pessoas solteiras, vivendo a vida louca, está muito enganado!
Saiba que a maioria dos g0ys tem namorada e que aqueles que não têm também desejam encontrar uma mulher para casar, ter filhos e constituir uma família.
Bromance
Pode ainda existir relação mais séria, como um namoro, chamado pelos g0ys de bromance (romance entre brothers).
O termo começou a ser utilizado para definir as relações entre amigos que conviviam por muito tempo e, dessa forma, desenvolviam profunda intimidade.
Inclusive, o clipe da música Bromance já passou dos 30 milhões de acessos no YouTube, reforçando no refrão que “não há nada gay nesse amor”.
As regras G0ys
Para você ter uma ideia de como o grupo está organizado e normatizado, existe até um manual com regras para se tornar um membro, publicado no site deles.
São elas:
- Não namoramos nem casamos com outros g0ys, no máximo temos uma amizade íntima – ou bromance. Casamos só com mulheres;
- Sexo e penetração são permitidos exclusivamente com mulheres;
- Somos a salvação do “homem de verdade” e, por isso, não permitimos qualquer associação com imagens e clichês do mundo gay;
- Temos clubes de relacionamento onde só é permitida a entrada de outros g0ys;
- Não nos identificamos com a comunidade LGBT e acreditamos que amar outros homens não tem nada a ver com esteriótipos como passivo e ativo;
- Confiança e respeito são fundamentais.
Pode isso, Arnaldo?
Você deve estar pensando agora: “mas que palhaçada é essa, eles são beeshas sim!”. Acertei?
E talvez sejam mesmo!
Pelo tom homofóbico do discurso, eu diria que há grandes chances de que sejam gays enrustidos, com homofobia enraizada, apenas inventando uma forma de manter relações com outros homens sem denegrir a sua masculinidade. Ou talvez sejam bissexuais… quem sabe?
Agora, muito acima de qualquer preconceito, não podemos eliminar a possibilidade de que sejam mesmo heterossexuais curiosos, querendo desfrutar da sexualidade livremente. Por que não?
A verdade é que o fato de “pegar alguém” não define, necessariamente, a personalidade do “pegador”, por mais que insistam em dizer que sim.
Ser gay é muito mais que fazer sexo com homem. Ser gay é também fazer sexo com homem.
A homossexualidade envolve toda uma série de experiências sociais bastante específicas, que vão muito além de sexo. Da mesma forma, não serão episódios pontuais ou desejos reprimidos que transformarão alguém hétero em algo novo.
Saca?
E a restrição quanto à penetração?
Bom, isso já é outra discussão. Afinal de contas, ela não representa o limite entre uma orientação sexual e outra. Não há uma linha de alerta no ânus que diga “cuidado, gay a partir daqui”.
E, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, alguns casais gays demoram anos para ter penetração. Alguns, inclusive, optam por nunca fazê-lo.
De qualquer forma, seja como for, cada um tem todo o direito de fazer e se intitular o que quiser, não é mesmo?
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