É possível namorar um assexual?

Eles não são infelizes, perturbados ou doentes. Aliás, eles também amam, sabia? Alguns beijam na boca, outros se masturbam e há até quem faça sexo em algumas situações bem específicas.

Só que sexo para eles é tão dispensável como, sei lá, guarda-chuva em dia de sol.

E eu entendo que pra você isso possa parecer bem bizarro, quase um papo de louco.

Você pode até achar que transar é algo natural e obrigatório. Que todo mundo quer, faz e comenta. Mas a verdade é que, para muitas pessoas, não é bem assim…

De acordo com estudos científicos, 1% da população mundial é assexual, o que representaria mais de 70 milhões de indivíduos.

No Brasil, segundo relatório feito pelo Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex), ligado à Universidade de São Paulo (USP), estima-se que 7,7% das mulheres e 2,5% dos homens não sentem necessidade de sexo e não sofrem com isso. A pesquisa, de 2008, é uma das mais recentes realizadas no País sobre o tema e entrevistou 8.200 maiores de 18 anos de diferentes regiões.

Sabe o que isso significa?

Que a assexualidade é mais comum do que você imagina. E que, provavelmente, alguém – e mais de uma pessoa – no seu círculo pessoal também não anda dando no couro.

E, se você acha que é impossível um homem gay ser assexual (ou assexual homorromântico, para usar o termo mais correto), dê só uma olhada na história do Josh.

Pois é! É perfeitamente possível.

Mas, não se assuste. Assexuais não mordem, não agridem, nem são ETs.

Ser assexual é ter uma orientação sexual como outra qualquer. Não é celibato. Não é coisa de puritano. Não é uma escolha. É simplesmente ausência de atração por sexo.

Assim como você pode não ter vontade nenhuma de comer fígado de boi, o assexual não tem vontade de transar.

Justo, não?

Pessoas assim sempre existiram, mas só agora começaram a ganhar notoriedade e reconhecimento pela ciência. Ainda assim, há poucas referências confiáveis sobre o assunto na internet e até mesmo na literatura médica/psicológica.

Por isso, antes de mais nada, vamos esclarecer alguns conceitos básicos:

Assexual X Assexuado

Não confunda assexual com assexuado.

Assexuado é um adjetivo para classificar organismos que fazem reprodução assexuada, ou seja, que não possuem órgãos sexuais.

Na biologia, é quem pode se reproduzir produzindo cópias de si mesmo, clones, para povoar um ambiente. Isso é ser assexuado.

Então, quando você estiver em dúvida se o certo é assexual ou assexuado, pare e pense: essa pessoa se reproduz fazendo clones de si mesma?

Se a resposta for não, o certo é assexual.

Como você pode ver, as duas palavras são parecidas, mas têm significados completamente diferentes. Bem diferentes MESMO.

Orientação sexual ou uma fase?

Também não confunda período sem atração sexual com assexualidade.

Algumas pessoas podem optar por não fazer sexo ou por ter uma fase celibatária, seja lá por quais razões – o que independe da orientação sexual.

Religiosos que fazem voto de castidade, por exemplo, não são necessariamente assexuais, apenas adotaram esse estilo de vida.

Outra situação é a de pacientes com transtornos psicológicos que tomam remédios que diminuem a libido: essas pessoas podem passar por longos períodos sem apetite sexual, mas isso não as tornam assexuais.

Assexualidade NÃO é uma doença

Que fique bem claro: quem não quer transar NÃO é doente. Assexuais não são vítimas de traumas, não foram molestados ou qualquer coisa do tipo. Eles simplesmente nasceram sob essa condição.

Se alguém não quer se relacionar sexualmente e se sente bem com essa situação, isso não tem nada a ver com doença ou distúrbio.

Claro que aqueles que sofrem de depressão, ansiedade ou passaram por um episódio de abuso na infância podem perder o desejo por sexo. Mas, nesses casos, a pessoa não seria assexual. Estaria momentaneamente sem vontade de transar devido a um trauma específico.

Percebe a diferença?

Para os assexuais essa falta de atração não traz nenhum incômodo. Já nas outras situações, a pessoa se sente desconfortável com a indisposição para o sexo.

É importante ter em mente que a assexualidade não faz a vida de ninguém nem pior ou melhor. Contudo, essa ideia errada de que não gostar de transar é um sinal claro de que algo vai mal torna a aceitação dos assexuais bem difícil.

Em uma cultura em que o sexo é hipervalorizado, hiperestimulado e associado à felicidade, mulheres e homens solteiros são vistos como pessoas malsucedidas – e casais que transam pouco precisam urgentemente resolver essa pendência para que o relacionamento dê certo.

Imagine, então, o que resta para aqueles que simplesmente eliminaram o sexo da rotina?

Pois é… chuva de julgamentos!

Quando, na verdade, nem todos precisam de um orgasmo para ser feliz…

Há diversidade dentro da assexualidade

A assexualidade pode ter várias graduações, desde o tipo que tolera a interação afetiva ao que rejeita todo e qualquer tipo de relação.

Tem quem não curta nenhuma pegação nem se apaixone (os arromânticos), tem que não transe, mas se apaixone (os românticos), quem passe a ter desejo só depois de criar um vínculo emocional muito forte com alguém (os demissexuais) e até quem seja ideologicamente contra a prática sexual.

Enfim, esse negócio de classificação é um pouco confuso – e chato, eu diria. Enquadrar pessoas aqui ou ali é escroto, afinal rótulos foram feitos para caixas.

Mas, às vezes, é preciso dar nome aos bois para que a coisa fique mais didática. Então, nada melhor do que analisar a própria bandeira da assexualidade – ela representa bem essa questão da complexidade do conceito:

  • Preto: representa a ausência de atração sexual;
  • Cinza: representa o meio caminho entre presença e ausência de atração;
  • Branco: representa a atração sexual;
  • Roxo: representa a cor da comunidade assexual.

Dá para namorar?

Mas a pergunta que não quer calar é: rola mesmo namorar alguém que não faz sexo?

Ao contrário do que muitos podem imaginar, sim, é possível. Afinal, como já falamos aqui, a falta de vontade de transar não impede que alguns assexuais sintam necessidade de carinho, desejem namorar e até casar.

Romantismo e sexualidade são coisas bem diferentes.

Você se lembra de quando estava na terceira série do colégio e era apaixonado por um menininho? Como era essa paixão? O coração batia forte, certo? Mas alguma vez você pensou em sexo? Não, né?! Isso é o amor assexual.

Sendo assim, assexuais podem namorar sem nenhum problema. Só que, certamente, não sentirão qualquer vontade de sexo – o que pode ser motivo de conflitos com o parceiro, claro, pois é muito difícil que dois assexuais se encontrem.

O “match” ideal para um assexual romântico seria uma cara também assexual e romântico, mas não é o que acontece geralmente. Na maioria das vezes, os casais são mistos: um assexual com outro sexual.

É importante frisar, mais uma vez, que o fato de a pessoa ser assexual não quer dizer que ela não possa fazer sexo. Em alguns casos, ela pode escolher fazer esse esforço para agradar o companheiro porque aquela relação é importante. E isso não faz com que deixe de se considerar assexual: o prazer permanece ausente!

Já em outras situações, o assexual radical simplesmente não consegue ter uma ereção. E, ainda assim, é possível que mantenha um relacionamento afetivo (se a outra pessoa não for TÃO chegada na coisa, claro).

Mas um namoro sem sexo não significa um relacionamento simples e sem complicações.

Óbvio que existem dificuldades. E muitas!

Pode abrir a porta para traição? Pode. Pode correr o risco da parte sexual cansar da quarentena prolongada? Pode. Pode ser a razão de um pé na bunda de uma hora para outra? Pode também.

Além dos mais, para os sexuais, se sentir amado está muito próximo de se sentir desejado. Então, muitas vezes, eles encaram a falta de atração física como falta de amor.

Também o assexual pode se sentir pressionado a fazer sexo, já que está num relacionamento com alguém sexual. E o sentimento de obrigação é diferente de estar disposto a conceder algo por amor. Já se torna uma espécie de abuso psicológico.

Complicado, não?

Se pode dar certo?

Para algumas pessoas sim.

Assim como em qualquer relacionamento, será preciso muito companheirismo, muita dedicação e, principalmente, muita conversa. Definitivamente, não vai funcionar se as partes envolvidas não se comunicarem.

A assexualidade não é um problema, mas, se não for bem discutida e administrada psicologicamente, pode vir a ser.

No fim das contas, se existem pessoas fazendo sexo sem amor, por que não seria possível existir amor sem sexo?

Você é assexual ou tem preguiça de sexo?

Conte mais sobre a sua história aqui nos comentários abaixo deste artigo. Se já se relacionou com um assexual, compartilhe também a sua experiência.