Quando é o momento certo de sair do armário para a família? Como iniciar a conversa? E se os meus pais me rejeitarem? E se eles tiverem vergonha de mim?
De todos os relacionamentos que alguém tem na vida, as conexões familiares talvez sejam as mais intensas.
Família é sinônimo de porto seguro. De colo de mãe, de proteção de pai, de cama quentinha. É a certeza de ter para onde correr caso tudo dê errado, afinal onde encontrar confiança maior que nos braços de pessoas que você conhece de toda uma vida?
É exatamente por isso que se “assumir” homossexual para aqueles que mais amamos é tão difícil.
Afinal, no momento que você conta para sua família que é gay, você se torna, de repente, uma pessoa estranha.
Imagine, então, o medo de introduzir algo inesperado e, de uma hora para a outra, perder esse apoio e respeito tão importantes?
Pois é! Que atire a primeira pedra o adolescente ou adulto gay que não tenha passado horas de sofrimento ensaiando como falar da sua sexualidade para os pais.
São horas mergulhado sozinho em uma depressão, em muitas neuras e receios, principalmente se todos na casa são muito religiosos ou conservadores.
Não é fácil mesmo. Não se aprende na escola, nem nos livros. E, quem dera, existisse um manual de instruções para abrir portas de armário…
Mas é muitas vezes necessário. Ou, no mínimo, altamente recomendado.
Eu costumo dizer que a vida gay é cheia de primeiras vezes, e que você precisa estar preparado para enfrentar cada uma delas.
A propósito: você não se assume, você se APRESENTA
A.S.S.U.M.I.R
Antes de seguir, uma observação importante:
Nunca fui muito fã dessa palavra quando o assunto é sair do armário.
Sei que ela está no título e aparece várias vezes neste artigo (afinal, as pessoas buscam no google assim), mas, sinceramente, não acho o melhor termo a se usar.
Se assume um erro. Um crime. Uma cagada.
Não uma orientação sexual.
Então, não, você não precisa “assumir” que é gay. Primeiro, você se RECONHECE gay. Depois, você se APRESENTA gay (e se quiser).
Aliás, você APRESENTA apenas uma das suas muitas outras características. Porque, além de gay, você é lindo, inteligente, dedicado, simpático, bom amigo, bom irmão, bom filho e por aí vai.
E quem dorme no outro lado da sua cama (se é homem ou mulher) não muda em nada tudo isso.
A história do Frederico
Frederico, leitor aqui do site, me procurou faz algum tempo porque não conseguia se assumir para família e sofria muito com isso.
O Fred tinha 27 anos na época, já morava sozinho, já tinha uma carreira bem encaminhada e já lidava muito bem com o fato de ser gay. Quer dizer, exceto quando visitava os pais…
Isso acontecia umas 4 vezes ao ano mais ou menos, mais precisamente nos feriados, únicos momentos em que ele se obrigava a viajar para a sua cidade natal.
Com o tempo, ele se deu conta de que, ao tentar esconder o tempo inteiro quem era de verdade, a relação com a sua família acabou se tornando superficial.
E pior: a vida dupla estava afetando também os seus relacionamentos amorosos. Ele não conseguia se entregar de corpo e alma a ninguém porque ainda tinha medo de ser “descoberto”.
O interessante é que, no fundo, ele achava que a sua família já sabia. E, felizmente, não era uma família aparentemente preconceituosa. Mesmo assim, o Frederico não tinha coragem de verbalizar a situação.
Tudo que ele queria é que eles chegassem um belo dia no café da manhã e perguntassem se ele era gay.
Seria tão mais fácil, simplesmente, dizer “sim”. Ou que perguntassem “como vão as namoradas?”. Seria tão mais fácil dizer “os namorados vão bem”.
Mas isso nunca aconteceu. Então, ele precisou buscar maneiras de falar abertamente com a sua família. Apenas assim, poderia seguir com a sua vida, sem mais angústias.
Quando, finalmente, criou coragem e contou tudo aos seus pais, a sua mãe lhe abraçou aliviada.
Ela disse que já desconfiava, mas tinha receio de começar a conversa sem o filho estar preparado para falar sobre o assunto.
Feliz e livre, Fred pode entrar de cabeça na comunidade gay e viver plenamente a sua vida. Porque agora as pessoas mais importantes para ele poderiam fazer parte dela.
Antes rejeitado pela família, que rejeitado por si mesmo
Claro, nem todos têm a mesma sorte que o Fred teve.
Se um homem gay arrisca ser rejeitado pela família quando se assume?
Infelizmente, sim. Mas, mantendo a homossexualidade em segredo, ele acaba rejeitando a si mesmo.
Tem gente que simplesmente não tem essa conversa com os pais porque acha que ser gay não é da conta deles. Eu discordo completamente.
Um namorado não tem que ser visto e apresentado como amigo. O seu jeito não tem que ser definido como “diferente”.
Se você não quer falar que é gay para os seus parentes mais próximos, tudo bem. Essa escolha é única e exclusivamente sua.
Mas, por favor, seja honesto consigo mesmo e diga “eu escolhi não falar para os meus pais porque não quero encarar a reação deles”. E não “eles não têm que saber porque não têm a nada ver com isso”.
Percebe a diferença?
Além do mais, esteja ciente de que um homossexual que não se assume para os pais veste duas “máscaras”: uma quando está com eles, fazendo a linha do filho assexuado ou pseudo heterossexual, e outra quando está longe, vivendo casos, amizades e uma vida quase que clandestina.
No fim das contas, o ato de falar demonstra a vontade e comprometimento em querer estar junto.
Sexualidade não é só sexo
É importante ter em mente, também, que você não é gay apenas porque transa com outros homens. Você é gay porque tem desejo por essas pessoas, porque se relaciona afetivamente com elas.
Quando alguém diz que ninguém precisa saber com quem ele faz sexo, essa pessoa reduz a homossexualidade ao coito e faz consigo praticamente uma castração afetiva.
Por favor, pare de se enganar. Ser gay não é fazer sexo. Ser gay é também fazer sexo.
Se você reduzir a sua homossexualidade a foder com outros caras, terá uma vida também reduzida. Isso porque continuará atendendo às expectativas de uma parcela homofóbica da sociedade, que quer que gays vivam em guetos.
Ser gay não precisa ser um segredo
Existe uma grande diferença entre privacidade e segredo.
É claro que certas coisas não precisam – e nem devem – ser contadas para os seus pais. Não é do interesse deles saber que você fez o primeiro boquete aos 15, que já fez o banheirão no shopping, ou que tem fetiche por homens de uniforme. Isso tudo você pode guardar para si.
Agora, esconder a sua homossexualidade é como esconder parte do que você é.
Mas há exceções…
Contudo, infelizmente, há alguns casos em que é melhor deixar a porta do armário fechada por um tempo.
Em situações de abuso sexual ou violência, manter o segredo é mais que preservar a privacidade: é se auto proteger.
Se os seus pais expressam opiniões incrivelmente homofóbicas, se fazem comentários negativos com frequência sobre ser gay ou até mesmo comentários violentos, pense bastante se deve ou não contar a eles.
Da mesma forma, se você é adolescente, se depende financeiramente dos pais e acredita que será rejeitado e expulso de casa após a revelação, é mais prudente manter a homossexualidade em sigilo e buscar a independência o quanto antes.
Com o tempo, talvez, você tenha que se afastar dessa família de comportamento abusivo e encontrar uma maneira mais segura de ser quem é.
Entenda que às vezes resolver diferenças familiares significa limitar o contato. E não se sinta mal por isso: tomar essa decisão é nada mais que autopreservação.
Agora, se esse não é o seu caso, deixe as diferenças existirem. Diga a sua verdade. E, principalmente, seja a sua verdade.
Você verá que essa atitude sincera te tornará um homem muito mais completo.
Então, vamos botar essa cara linda no sol?
Primeiro de tudo, você precisa estar muito seguro e ter uma autoimagem bem positiva da sua própria homossexualidade.
É fundamental que você se sinta bem com o fato de ser gay antes de contar para a sua família. Se você não estiver confiante, poderão vir perguntas que te deixarão com ainda mais dúvidas.
Diariamente, eu recebo vários e-mails de homens gays perguntando qual é a melhor forma de se assumir.
E a verdade é que não há uma receita pré-definida, muito menos exemplos a serem copiados. Cada caso é único e cada pessoa sabe dos limites e dos pensamentos dos seus familiares.
Escolher bem a primeira pessoa para contar pode ser chave para te ajudar em todo o processo. Um irmão, a mãe ou uma tia que sempre te entendeu melhor que todo o resto da família fazem a diferença na hora do pontapé inicial. Confiança (e algum planejamento) é o grande segredo aqui.
Se você sente que é o seu tempo para assumir para seus pais, faça. E aceite a condição que, a partir de então, é o tempo deles que deverá ser respeitado.
A história do Ricardo
O Ricardo, outro leitor aqui do site, tinha 14 anos quando conheceu um cara num chat gay.
Um dia, os pais dele olharam o histórico de navegação do seu computador e descobriram que ele andava visitando sites pornô. E mais: de bisbilhoteiros que eram, viram também a sua caixa de entrada e encontraram e-mails bem sexuais com o tal boy do chat.
Nem preciso comentar o susto que levaram, né?
Chocados, os pais do Rick foram em busca de ajuda.
Foi então que o psicólogo disse a eles que o Ricardo não tinha nenhum problema, que, aparentemente, tinha a sua sexualidade já bem definida. E que o problema estava todo neles (pais).
Eles é quem deveriam agora aprender a lidar com a homossexualidade do filho.
Quando os filhos saem do armário, os pais entram
Normalmente é assim que funciona. Pais e irmãos têm tempos diferentes de assimilar a ideia do filho/irmão gay.
Alguns podem demorar anos, outros meses, outros semanas e há aqueles que chegarão de imediato e dirão: “Mas eu sempre soube! Tava só respeitando o seu tempo e esperando você me contar!”.
Contudo, você precisa entender que, mesmo para os pais mais mente aberta, essa notícia não deixa de ser um choque. Afinal de contas, ela pode representar o fim de muitos sonhos.
Talvez os seus pais sonhassem com você casando na igreja com uma esposa maravilhosa e tendo filhos também maravilhosos. E, muito embora tudo isso ainda seja possível, eles precisarão de algum tempo para aceitar que a esposa será esposo e o filho será adotado.
De certa forma, você acaba de mudar a vida deles para sempre.
Por isso, tenha o máximo de compaixão que puder, mostrando que entende os seus sentimentos, mas sendo firme e dizendo que esses sonhos eram deles, não seus.
Note que, em alguns pais, poderá surgir o sentimento de culpa.
São bem comuns perguntas do tipo: “A culpa é minha?” ou “O que aconteceu para você ficar desse jeito?”, como se houvesse acontecido alguma “falha” na educação.
Pais solteiros tendem a se culpar mais do que os outros, acreditando não terem sido um modelo de relações heterossexuais positivo para o filho.
Seja como for, evite deixá-los associar a “culpa” a alguma coisa ou a alguém. Tranquilize-os, dizendo que não há nada que eles poderiam ter feito para influenciar a sua sexualidade.
Há, também, famílias que preferem ignorar o fato, escondendo o problema embaixo do tapete. Isso porque aceitar um filho gay pode significar ter que encarar que talvez não estejam sendo tão compreensíveis e prestativos como deveriam.
Às vezes, o pai ou a mãe (geralmente o pai) pode levar mais tempo para aceitar o notícia do que o outro. Prepare-se para esse cenário, também.
Na hora de falar:
Encontre o local e o momento apropriados
Será um papo informal, mas é bom contar com certo planejamento aqui. Escolha um lugar onde vocês possam ter privacidade, de preferência em casa.
Atente, também, para o momento. Nada de largar a bomba no meio do jogo de futebol do time do seu pai ou no intervalo da novela preferida da sua mãe.
Certifique-se de que eles não estão passando por nenhuma barra no trabalho ou de saúde. Dizer algo significante assim num período já complicado só irá deixá-los mais nervosos e perdidos.
É fundamental que o ambiente familiar esteja emocionalmente estável e que eles não estejam estressados, distraídos ou ocupados.
Não se assuma durante uma briga
Você pode até se sentir tentado a gritar para o mundo que é gay no calor de uma discussão. Mas, pelo amor da santa rola, não faça isso! Esse é o pior erro que você pode cometer.
Se você usar a sua sexualidade como arma contra os seus pais, tornará ainda mais remota a possibilidade de eles terem uma reação positiva. Ao contrário, eles associarão o desabafo à briga e verão isso como uma afronta.
Não consegue falar? Então, escreva!
Claro que nada substitui o face-to-face, mas, caso você ache muito intimidador começar esse assunto pessoalmente, escreva.
Isso mesmo. Mande um email, uma carta, uma mensagem, um Whatsapp. Mas faça!
Melhor, óbvio, seria ter essa conversa de forma presencial, mas, se você notar que está demorando muito tempo travado, sem conseguir abrir a boca e botar tudo pra fora, tome partido da escrita.
Não precisa ser nada muito longo; basta dizer que está assumindo a sua sexualidade e que gostaria de contar com o apoio deles.
Seja simples
Nada de fazer um discurso elaborado sobre a luta da diversidade ou sobre como sabe que é gay desde os sete anos de idade quando viu o primo pelado…
É claro que você pode entrar em detalhes mais tarde, mas, para começar, seja eficaz e simplesmente diga: “Eu quero contar uma coisa. Eu sou gay.”
Quanto mais você esperar para falar essas três palavrinhas mágicas, mais nervoso ficará.
Conte de forma rápida, calma e objetiva. Mostre que você se aceita e espera que eles façam o mesmo.
Procure ganchos
Caso você não consiga ser tão reto ao ponto, uma boa maneira de começar a conversa é iniciando um debate com os seus pais sobre os direitos dos homossexuais. É uma alternativa de entrar no assunto e poder puxar o gancho a partir daí.
Crie uma situação “hipotética”: diga para eles suporem que você (ou talvez um irmão) dissesse que é gay, perguntando como seria sua reação. Depois, avalie as respostas para definir como continuar o papo.
E se a reação deles não for a esperada?
Se sua família se recusa, mesmo depois de muitas tentativas e paciência sua, a te aceitar e te amar como gay, não abra mão da sua realização e felicidade pessoal para agradá-los.
Quem está errado não é você, são eles.
Você é perfeito, é lindo, é maravilhoso exatamente assim. São eles quem devem mudar, não você.
E, se alguém não puder lidar com o simples fato de sua sexualidade ser diferente, então essa pessoa não merece sua atenção.
Construa novos laços de amizade, amor e compreensão. Passe algum tempo com pessoas GLS ou amigas dos GLS e lembre-se de todo o apoio que tem por aí, ao invés de concentrar-se nas opiniões de ignorantes que tentam te colocar para baixo.
Cortar o cordão umbilical ou livrar-se da barra da saia materna no início pode parecer assustador, mas, em alguns casos, é o primeiro passo para um caminho muito mais autêntico e feliz.
Siga o seu coração. Viva tudo o que você tem vontade de viver. Quando eles (família) estiverem preparados para participar dessa parte da sua vida, te procurarão.
Ser feliz é ser livre
Ninguém merece viver na escuridão. Muito menos na escuridão de si mesmo.
Assumir-se gay significa fazer as pazes com quem você é e ter orgulho suficiente para compartilhar essa pessoa com o mundo.
No fim, você se dará conta de que sair do armário não é uma questão de opção. É uma questão de sobrevivência. Você corre o risco de ficar sem ar lá dentro.
Pense nisso!
O que vem depois?
Tá bom, mesmo depois de ler tudo isso, você continua com medo?
Medo que os amigos se afastem?
Medo de que a família te rejeite? De que não amem mais você como antes? De que você seja um motivo de humilhação para eles?
Então, saiba que você não está sozinho.
Conheça o Fora do Armário e descubra como você pode sair do armário da melhor maneira possível NA SUA SITUAÇÃO, seguindo simples (e estratégicos) passos.
O programa está dividido em 4 módulos, um para cada fase do processo de assumir-se gay. São instruções diretas e fáceis de colocar em prática.
Venha! Existe um mundo lindo te esperando do outro lado da porta 🙂
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