Quem tem amigos, tem tudo.
Pelo menos é o que dizem por aí, não é mesmo?
Daí você sai do armário confiante de que agora, finalmente, encontrará a sua tribo e será aceito, amado, acolhido.
Só que, o tempo vai passando, e você vai se dando conta de criar um grupo de amizades na comunidade LGBT não é tarefa assim tão fácil…
Você até conhece muitas pessoas. Até frequenta lugares com gente interessante. Até conversa com várias delas. Mas a verdade é que nunca se sentiu tão sozinho.
Parece familiar?
Pois saiba que uma das reclamações que chega com frequência até mim é a dificuldade de fazer amigos gays.
Como essas:
- “Ou você segue padrões de beleza e é bonito ou sarado, ou ninguém quer ser seu amigo”;
- “Gays são malvados e julgam a todo momento”;
- “Gays são promíscuos”;
- “Gays são mais preconceituosos que héteros”;
- “Tenho medo dos próprios gays”;
- “Não gosto de festa e pegação, por isso não me identifico com a “cultura gay”;
Ao que parece, é forte a sensação de não se sentir bom o bastante para estar com outros gays. De não se sentir bonito o bastante, rico o bastante. Ou de, simplesmente, não se sentir adequado.
Mas a pergunta é: será que tudo isso tem fundamento mesmo?
É mesmo mais difícil fazer amigos gays?
Para início de conversa, é claro que não se pode generalizar: nem todos os homens gays são fúteis, julgadores ou maldosos (segundo o que sugerem as reclamações acima).
Se caras sarados querem ter só amigos sarados como eles?
Talvez.
Mas daí é importante que a gente entenda que isso não é uma realidade apenas dos homossexuais. Certo ou errado, o fato que as pessoas tendem a se aproximar daquelas com as quais mais se identificam.
É por isso que “barbies” talvez tenham os mesmos assuntos que outras “barbies”. Que nerds se aproximem de outros nerds. “Mauricinhos” de outros “mauricinhos” e assim por diante.
Se você precisa frequentar as baladas com gente descamisada e gostar de putaria para se integrar no meio?
É claro que não! Caso você pense assim, entenda que isso é outra baita generalização, algo que você, por preconceito próprio, aceitou como verdade para evitar “se misturar”.
Nem todo gay é promiscuo. Nem todo gay está interessado na vida noturna. Nem todo gay tem foto da piroca no aplicativo.
Aliás, a tal “cultura gay” tem uma regra bem simples:
Ser quem você bem quiser! Livre de pressões, livre de estereótipos, livre de rótulos.
E é exatamente essa parte do preconceito e julgamento que eu acredito ser a mais preocupante.
Um bom exemplo é a rejeição aos afeminados, que a gente vê tão forte por aí.
Tanto se lutou – e se continua lutando – para combater a discriminação, a intolerância, a ignorância, e acabamos encontrando a mesma homofobia sendo praticada dentro de uma comunidade que deveria somar forças. É mesmo lamentável constatar que existe preconceito entre pessoas que lutam pelos mesmos direitos.
Mas por que diabos isso acontece?
Bom, muito provavelmente, isso seja fruto da insegurança.
De acordo com o psicanalista americano Matthew J. Dempsey, uma explicação possível está no fato de que o gay cresce, muita vezes, sendo julgado e acaba projetando essa mesma atitude nas outras pessoas.
Ainda segundo Dempsey, o jovem homossexual aprendeu, desde cedo, a estar na defensiva, a se proteger. Então, inconscientemente, mantém o mesmo padrão na vida adulta até ganhar confiança de quem está conhecendo.
É evidente que isso não justifica esse tipo de comportamento. Mas, quando você entende o que pode estar por trás dele, você se torna alguém muito mais empático. E principalmente: deixa de levar para o lado pessoal qualquer falta de receptividade do outro.
No caso dos gays, há também uma barreira extra para novas amizades: a confusão entre “quero te pegar” e “quero ser só seu amigo”. Uma tentativa de aproximação com alguém desconhecido sempre pode ser interpretada com segundas intenções. Daí as coisas ficam ainda mais complicadas.
E tem mais:
A dificuldade de fazer amigos (de verdade) depois dos 30 anos
Outra realidade que nem todo mundo se dá conta é que fazer amigos depois dos 30 anos não é, nem nunca será, igual a quando você tinha 15.
Isso é fato! E não importa se você é gay, hétero, bi, trans…
Antes, quando você frequentava um colégio ou faculdade, era barbada (bom, pelos menos para aqueles que não passaram por grandes traumas ou problemas nessa fase).
Todo final de semana tinha festa, chopp depois da aula, encontros, viagens, bebedeiras e mil confraternizações para ver aquela gente o tempo inteiro.
Mas daí foram chegando os casamentos. Os filhos. Os trabalhos exaustivos. Os vários compromissos.
Os horários vão ficando apertados, as prioridades mudam, as cidades mudam e, muitas vezes, para completar o desastre, nos tornamos muito mais seletivos.
Na nova rotina, você deixa de estar rodeado por pessoas da sua própria idade, experimentando as mesmas coisas ao mesmo tempo.
Os encontros frequentes com a galera dão lugar ao clássico “temos que combinar algo”, que nunca sai do papel.
A dura realidade é que, sim, quando chegamos à vida adulta, fazer amigos se torna cada vez mais difícil.
E, se isso já te incomodou em algum momento, saiba que a sua preocupação é completamente válida.
Por que ter amigos é tão importante?
Somos seres sociáveis. E, por mais irônico que possa parecer, é no contato com o outro que somos mais nós mesmos.
Décadas de estudos mostram que amizade não é apenas um luxo. É uma necessidade.
Ter amigos, indiscutivelmente, nos deixa mais feliz. Uma pesquisa em Yale mostrou que os relacionamentos são o responsável número 1 pela felicidade na vida de cada indivíduo.
E não para por aí: um círculo social fraco é ruim para sua saúde também. Segundo um estudo da Brigham Young University, não ter amigos suficientes traz o mesmo risco que fumar 15 cigarros por dia.
Pesado, não?
Ou seja, a conclusão é simples: ter amigos nos faz viver mais e melhor.
De quantos amigos próximos eu realmente preciso?
Segundo a ciência, 5 é o número ideal. Você precisa de 5 bons amigos para viver mais e estar plenamente satisfeito com seu círculo social.
Mas atenção: para entrar nesse grupo, não valem meros conhecidos, colegas de trabalho ou amigos casuais.
Eu sei que hoje em dia você, provavelmente, conhece uma boa quantidade de pessoas graças ao trabalho, viagens, sobrinhos e vivências que se acumulam.
Só que a pergunta é: para quantas delas você ligaria na madrugada em caso de emergência?
Se você tem intimidade o suficiente para incomodá-la às 2h da manhã, sem se sentir constrangido, parabéns. Este é um bom amigo.
Entenda que existem muitas coisas na vida que nunca serão medidas pela quantidade, mas pela qualidade. E a amizade talvez seja a mais importante delas.
Muitos só se dão conta disso depois de uma separação. Estão enfiados num relacionamento, dedicam 100% do seu tempo ao parceiro e, quando se separam, finalmente cai a ficha de que não têm quase ninguém por perto.
Mesmo com vários de “amigos” no Facebook. Mesmo com centenas de seguidores no Instagram…
Pois é!
Mas, afinal, o que é preciso para que se forme uma amizade?
Existe fórmula da amizade?
Aqui 3 ingredientes essenciais:
O que te aproximou do seu melhor amigo? Interesses em comum, o senso de humor refinado ou sua maneira descolada?
Difícil definir motivos precisos e imutáveis para justificar uma amizade com alguém.
Até os cientistas relutam em aceitar respostas prontas para explicar a receita para formar bons amigos que, por sinal, nem existe.
O ser humano é bem mais complexo que um punhado de fórmulas….
Mas o que, sim, existem são alguns ingredientes essenciais que facilitam a criação de laços e a manutenção das relações.
São eles:
1. SIMILARIDADES
Não tem jeito: como já dito aqui, tendemos a nos aproximar das pessoas com as quais temos algo em comum. Isso é fato!
Interesses compartilhados geram conversa, geram conexão, geram vontade de estar junto (além de vários planos para o fim de semana).
2. PROXIMIDADE
Não é coincidência que seus amigos mais próximos na infância sejam aqueles que nasceram na mesma cidade que você.
Assim como também não coincidência que você hoje tenha perdido o contato com grande parte deles….
Pense nos seus amigos de colégio ou da faculdade depois que vocês se formaram. Com quantos deles você ainda conversa?
Trocar mensagens pode até ajudar, mas dependendo da força do vínculo, não é o suficiente.
Claro que tem aquele tipo de amigo que você pode passar anos sem ver, que pode ficar temporadas sem falar, mas que, quando se encontram, tudo é exatamente igual.
Esse, sim, é um grande amigo. Para esse, sim, você ligaria na madrugada.
Agora, no caso daqueles que a relação não é assim tão forte, a tendência é que a amizade se torne cada vez mais distante se não há proximidade.
3. FREQUÊNCIA
Um estudo da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, verificou que são necessárias cerca de 50 horas de socialização para que uma pessoa deixe de ser uma mera conhecida e se torne uma amiga. Já para que ela se torne uma grande amiga, são necessárias 200 horas de convivência.
Seja como for, é fato que uma amizade não se estabelece do nada.
Normalmente, você precisa encontrar a pessoa diversas vezes. Conversar, trocar ideias, conhecê-la o mínimo possível para saber se é alguém que agrada a convivência (por menor que seja).
Isso explica por que a maioria das nossas amizades são formadas na escola.
Encontramos com nossos colegas todos os dias. E levamos a amizade para fora da sala de aula, fazendo outras atividades. Depois de alguns anos, convivendo com a pessoa todos os dias, o vínculo é criado naturalmente.
A dica quente para fazer novos amigos:
Se as séries do Netflix e a pipoca têm te deixado entediado – e você se sente levemente arrependido por não ter ido a um evento social recentemente, porque “teria que lidar com pessoa desconhecidas” –, a boa dica é simples:
Crie novos hábitos!
Isso mesmo.
Desde os mais simples como dar uma volta no quarteirão durante o intervalo do trabalho, aos maiores como deixar o carro em casa e ir trabalhar com algum transporte público. Não importa.
O ponto é: permita que novas pessoas cruzem o seu caminho.
Por exemplo, ir para o trabalho é um hábito. Frequentar a faculdade. Ir à academia. Jogar vôlei, futebol, handball. Almoçar todos os dias no mesmo restaurante, e assim por diante.
Você ainda pode arriscar fazer um curso de algo diferente. Que tal fotografia, desenho ou aquele curso de cozinha que você há tempos está interessado?
Cursos são ótimos, já que esses ambientes reúnem várias pessoas dentro de uma mesma sala com um objetivo em comum: aprender a cozinhar, ou pintar, ou falar inglês, ou mexer no Excel, ou jogar poker, etc.
É natural a conversa fluir.
Às vezes também pode ser interessante fazer um curso sobre algo que você já estudou ou trabalha atualmente. Mais do que a especialização e o aprendizado, você poderá levar na bagagem muita gente bacana.
Se o seu objetivo é fazer especificamente novos amigos gays, busque atividades ou lugares comuns entre esse público: um time gay de algum esporte, uma academia, uma comunidade no Facebook, um grupo Meet up na sua cidade…
Com um pouquinho de criatividade e de boa vontade, você verá que são várias as opções.
Seja qual for a sua escolha, saiba que o hábito é a melhor maneira de estreitar um laço. Afinal, o segredo está na repetição.