Lembro até hoje da primeira vez que me deparei com um casal gay. Eu devia ter uns 5 anos mais ou menos e vi aqueles dois rapazes de mãos dadas na rua, trocando beijos discretos.
Fiquei confusa e perguntei para a minha mãe porque eles estavam se beijando. Ela, então, me explicou que nem todo casal era formado por homem e mulher. Que alguns homens namoravam homens, e algumas mulheres namoravam mulheres…
Desde pequenos buscamos dar sentido às coisas. Quem não bombardeou os pais com perguntas do tipo “por que o céu é azul?”, “para que servem as formigas?”, “onde as estrelas se escondem durante o dia?”.
Daí o tempo passa e esse olhar sobre o mundo se volta para dentro de nós mesmos. Começamos a querer entender a razão pela qual existimos e, principalmente, de que forma podemos nos tornar realizados.
Você sabe qual é o seu propósito de vida?
Ei, não foge não. O papo é com você mesmo!
Outro dia li uma frase do escritor americano Mark Twain e nunca mais consegui tirá-la da cabeça:
Os dois dias mais importantes da sua vida são:
o dia em que você nasceu, e o dia em que você descobre o porquê.
Quanta verdade para poucas linhas!
Você já descobriu por que nasceu?
Por que você vive?
Qual é o propósito da sua vida?
Tá aí uma dúvida que tira o sono de muita gente.
E não é para menos!
A grande verdade é que a maioria das pessoas não tem nenhuma pista sobre o propósito de vida. Vivemos a maior parte do tempo no piloto automático. Mesmo depois de terminar a faculdade. Mesmo depois de conseguir um emprego. Mesmo depois de começar a ganhar dinheiro.
E não me refiro apenas à vida profissional. No campo pessoal, ter um propósito claro é ainda mais importante para dar aquela coerência tão necessária nas escolhas que somos obrigados a fazer todos os dias.
Descobrir a própria missão neste mundo é a revelação que permite que tudo faça sentido. E mais: saber a resposta dessas perguntas é de extrema importância para aumentarmos a nossa autoestima.
Isso porque quem vive uma vida ditada pelo “sistema” e não tem uma opinião própria do que é certo ou errado para si mesmo, não tem condições de se apreciar.
Por outro lado, quando sabemos qual é a nossa verdadeira missão, já não nos importamos com o que as pessoas acham da gente. Temos a nossa própria voz e a nossa própria maneira de encarar a vida.
Os gays mais carismáticos, poderosos e influentes que eu conheço são indivíduos que têm um forte entendimento do que querem para suas vidas e não se deixam abalar pelas opiniões dos outros.
Quem é você de verdade?
Quem olha para fora, sonha.
Quem olha para dentro, desperta.
Mas antes de responder à pergunta fundamental da existência, você precisa encarar uma nem tão mais simples: você sabe quem é de verdade?
Você conhece quem se esconde por trás dessa imagem moldada pela sociedade e pela expectativa de terceiros? Essa imagem de quem você acredita que deveria ser para ser aceito? Para ser amado? Para ser admirado?
Pois é… Para descobrir o seu propósito de vida, será preciso antes se despir de cada uma das máscaras que escondem a sua verdadeira essência.
Funciona mais ou menos assim: quando você não sabe quem é, você é como uma folha em branco. E, então, aceita qualquer imposição, acredita em tudo que dizem sobre você e vira um passageiro da sua própria vida.
Eu demorei muito tempo para me dar conta de que não precisaria ser exatamente o que os meus pais sonhavam. Que não precisaria seguir à risca todos os seus conselhos. Que não precisaria viver a vida que eles tinham imaginado para mim.
Até porque o maior objetivo de um pai de uma mãe é ver o filho feliz. E o caminho para a minha felicidade só eu poderia escolher.
Por que é mais difícil encontrar o propósito de vida dentro do armário?
Quando um gay ainda está dentro do armário, ele foca todas as suas energias em esconder a sua real identidade.
Resultado?
Deixa todos os seu sentimentos e emoções também do outro lado da porta.
Propósito de vida tem a ver com paixão, com desejos, com vontades. E, principalmente, tem a ver com honestidade. Por razões óbvias, uma pessoa que reprime os seus instintos mais sinceros vai ter muito mais dificuldade de encontrar a sua missão neste mundo.
Gays enclausurados não são eles mesmos. Não praticam o autoconhecimento, nem enaltecem – e às vezes até desconhecem – o que têm de melhor. Como, então, descobrir aquilo que trará realização, se a própria satisfação emocional está sendo suprimida?
Em busca de sentido
A vida nunca se torna insuportável por causa das circunstâncias, mas somente por falta de significado e de propósito.
A frase acima é de Viktor Frankl, psiquiatra austríaco e autor do livro “Em busca de sentido”– um must-read para qualquer pessoa, falando nisso.
Prisioneiro em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, Frankl presenciou a morte e o horror de perto. Mesmo após ter perdido tudo, ter sofrido fome, frio, maus tratos, não sabendo se no dia seguinte estaria vivo ou morto, ele conseguiu extrair algo da vida que o fez seguir em frente.
Frankl observou que, de todos os prisioneiros, os que melhor conservavam o autodomínio e a sanidade eram aqueles que tinham um forte senso de missão no futuro: uma obra para acabar, um filho ou neto para criar, uma descoberta científica para divulgar.
Ele mesmo impediu vários amigos de dar fim à própria vida ao lembrá-los de que eles tinham, sim, um grande sentido para continuar existindo.
E por que eu estou contando a história do tio Frankl aqui?
Simples! Porque ela é um ótimo exemplo de que ganhamos energia e resiliência para enfrentar até os momentos mais difíceis quando temos um propósito de vida.
Não sei se é o seu caso, mas preste atenção e perceba quantas pessoas que você conhece sentem-se deprimidas e sem disposição para fazer as coisas básicas. Pessoas com a sensação de que a vida não tem significado, nem motivo para levantar todos os dias com sorriso no rosto…
Conhece alguém assim? Esse alguém é você?
Seja quais forem as razões do seu sofrimento, saiba que elas podem ser drasticamente minimizadas no momento em que você descobrir o seu porquê.
E como eu descubro o meu porquê?
Achar um propósito realmente não é tão óbvio quanto preencher uma cruzadinha. Requer autoconhecimento, requer paciência e, acima de tudo, requer foco. Por isso mesmo, muita gente acaba preferindo seguir o conselho do Zeca Pagodinho de “deixar a vida a levar…”
Agora, também é verdade que, ao contrário do que muitos pensam, um propósito não precisa ser algo grandioso. Ele não precisa ter como objetivo acabar com a fome na África e mudar o mundo. Ou melhor, basta que ele mude o seu mundo.
É fato que as nossas vidas irão mudar. A questão é, em qual direção isso vai acontecer?
Um propósito também não é medido em graduações, nem em currículo, muito menos em salário. Ele é medido em realização.
O objetivo de vida de um médico realizado, por exemplo, não é ser médico, é salvar vidas. Assim como o de um psicólogo é ajudar pessoas, o de um cabeleireiro levantar a autoestima, o da tia da padaria ver a satisfação nos olhos de cada cliente, o da minha vó unir a família e viver para ver ela crescer, e assim por diante.
Note que às vezes não é nem preciso diploma.
Basta ter uma vontade. Basta ter um sonho. O significado pode vir de várias fontes diferentes, mas nenhuma é mais poderosa e mais transformadora do que o amor por fazer.
Uma maneira de se realinhar com a verdadeira missão é criar um cartão de visitas original.
Em vez de escrever nele o nome dado à sua função, escreva o seu propósito. Tente usar três palavras, no máximo. Exemplos: um cabeleireiro pode ser, na verdade, “consultor de autoestima”, um designer “formador de sonhos”, um jornalista “provedor de informação” e etc.
Pera aí que eu vou ali me jogar da janela e já volto…
Cadê propósito?!!
Esse papo todo só serviu para deixar você ainda mais sem rumo?
Calma, mana!
Se você está completamente perdido, como um dia eu também já estive, um bom ponto de partida pode ser responder algumas perguntas-chave (importante fazer de forma rápida para que as suas respostas não sejam influenciadas pela racionalidade):
- Quais os momentos da sua vida em que você lembra ter se sentido muito muito feliz? (não vale na cama do boy, nem comendo uma barrinha de chocolate de pijamão deitado no sofá)
- O que te faz sentir vivo e energizado?
- Qual é a sua habilidade única?
- Qual ou quais atividades você realiza sem esforço e sem perceber o tempo passar?
- Pelo que você é constantemente elogiado?
- Quais os seus maiores medos na vida?
- O que te impede de fazer o que gosta?
- Quais qualidades você acredita não ter que seriam essenciais para a descoberta ou desenvolvimento do seu propósito?
Muita pergunta e pouca resposta?
Continua sem saber para que direção seguir?
Então, eu vou te ensinar 5 maneiras pouco convencionais de encontrar esse bendito propósito. Leia com atenção.
#1. Faça uma lista de 30 coisas sobre você
Não sei se você já viu, mas está rolando nas redes sociais uma brincadeira em que um amigo desafia o outro a escrever uma lista de 30 coisas sobre ele mesmo.
Confesso que a primeira vez que vi isso pensei: “Putz, que preguiça! Escrever 30 coisas sobre mim, nem tenho tanto assim para falar…”
Mas decidi aceitar o desafio e, para a minha surpresa, eu poderia listar até 100 se quisesse. Acredite: todos nós temos algo para contar. E ainda que seja difícil falar de si mesmo, fazer esse exercício é uma ótima forma de praticar o autoconhecimento.
Depois que cheguei no último item, me dei conta de a lista que eu tinha acabado de criar contemplava os dados mais valiosos da minha vida: as coisas que mais me importam, as pessoas que mais me marcaram, meus valores, meus hobbies, minhas paixões, meus medos…
Se você fizer o mesmo de maneira sincera, com o coração aberto, de você para você mesmo, sem ter que dividir com ninguém, descobrirá um monte de aspectos importantes sobre a sua personalidade.
Por isso, te convido a encarar o desafio: coloque no papel 30 coisas sobre você. Liste os fatores que te fazem ser quem é, curiosidades, aquilo que te faz sentir orgulhoso, os fracassos, gostos, talentos…
Tudo isso te define. Tudo isso te torna único e especial.
#2. Imagine o seu aniversário de 100 anos
Sim, isso mesmo.
Imagine que hoje você completa nem mais nem menos que 100 anos! Wow!
E, como se não bastasse, você está chegando nessa idade na melhor forma possível: com saúde, clareza mental e uma família que te ama muito e vem, ano após ano, comemorar com você. Você é uma pessoa que viveu a vida com plenitude, que conseguiu tudo aquilo que queria e tem tudo que precisa para ser feliz.
Feche os olhos e se deixe levar por essa imagem: seu aniversário, sua família e amigos reunidos.
Quem está aí? Você tem um parceiro? Você tem filhos adotados? Tem netos? Tem bisnetos?
O que você agradece e recorda com paixão nesse momento tão especial? Que acontecimentos marcaram a sua vida? Que pessoas estiveram por perto? Com o que você ocupava o seu tempo?
Se você quer saber como gostaria de estar daqui 50 anos, deve tomar a decisão agora. Não daqui 50 anos.
#3. Defina a sua estrela
Agora imagine que você é a pessoa de maior sucesso que você conhece. Os jornalistas te perseguem, as revistas do setor querem te entrevistar, você está aparecendo frequentemente na mídia e todos te apresentam como um “bam-bam-bam” em determinado assunto.
E, então, vem a pergunta do milhão: Quem é você? O que você faz da vida?
De novo: você não precisa se deixar influenciar pela atual formação acadêmica ou profissional. Se é para sonhar, sonhe bem. Sonhe alto. Sonhe com o coração batendo forte.
Não julgue, nem analise. Deixe voar a sua imaginação.
Você é um é arquiteto famoso? É um cantor internacional? É um escritor que recebeu o prêmio Nobel?
Por favor, aponte para as estrelas. O mais longe que você puder. E seja sincero com você mesmo.
#4. Pense o que te daria um tesão enorme de fazer, mesmo se você tivesse ganhado na mega sena
Suponhamos que você é um milionário e que dinheiro não é, e nem nunca vai ser, um problema na sua vida. Você pode escolher fazer o que quiser para preencher o seu tempo.
O que você faria?
Cada vez mais o que fará diferença não será a capacidade de realizar uma tarefa, e sim a sua paixão e exclusividade em realizá-la.
Todo mundo é bom de verdade em alguma coisa: fotografar, cozinhar, cuidar de crianças, escrever… Mas, geralmente, o que nos faz desacreditar dos nossos talentos é a baixa autoestima.
Pergunte-se, então: que talentos você tem que te dão verdadeiro orgulho e prazer?
Acredite, cada pessoa tem uma combinação muito única de vivências e aprendizado. Portanto, cada um de nós tem algo único para trazer ao mundo.
Se você não está trazendo, quem está perdendo com isso não é só você. Sou eu, os seus amigos, o menino que pede dinheiro na sinaleira, a tia do cachorro-quente e a humanidade como um todo.
#5. Responda: Por quê?
Até agora eu deixei você sonhar acordado, imaginando um monte de situações incríveis.
A pergunta é: o que você sentiu? O que te emocionou mais? E, acima de tudo, que sentido você encontrou em tudo isso?
Por que você fazia o que fazia? Qual era a finalidade?
Mais do que saber o que você quer fazer, você precisa saber por que quer fazer.
Siga o seu coração
Lembre-se: se você não tiver o seu próprio plano de vida, alguém fará com que você se encaixe no plano dele.
Sei que essa descoberta às vezes pode demorar a acontecer: tem gente que encontra a verdadeira missão e vocação bem tarde – e não há nada de errado nisso. Porém, nunca perca o seu porquê de foco. Depois de encontrá-lo, você será um homem bem mais completo.
Ah e abrace a vergonha. Sentir-se idiota é parte do caminho para realizar algo importante, algo significativo.
Quanto mais a principal decisão de sua vida lhe assustar, mais provável é que você precise tomá-la. Talvez a resposta esteja bem evidente, só falta coragem e atitude para enxergá-la.
Pense nisso!
Quanto a mim?
Bom, eu ainda sou aquela mesma menininha que entendeu cedo o significado da diversidade e fez dele um propósito de vida 🙂