É possível um homem hétero se apaixonar por um gay?

Fale agora ou cale-se para sempre o gay que nunca sonhou em pegar um homem hétero na vida.

De todos os desejos da adolescência, esse talvez seja o mais comum:

A paixonite pelo coleguinha popular da turma.

Quem nunca sofreu com aquele amor platônico e incompreendido? Aquela vontade de “converter” o que é “normal” em “anormal” (e sentir-se um pouco “mais normal” com isso)?

De subjugar o macho? De conquistar quem é visto como superior?

Sim, é a última das fantasias…

A verdade é que o gay costuma ter o mesmo pensamento de homem ideal que as mulheres: um príncipe gentil, cavalheiro, educado, de voz firme, admirado e, se possível, bem de vida. A figura masculina heterossexual é idealizada porque transmite segurança, força, proteção, atitude na cama e “pegada”.

Pode ter certeza que, se você está apaixonado por um amigo hétero, ele te inspira uma ou mais dessas características. E é isso que enche o seu estômago de borboletas, afinal paixão tem uma boa parcela de encantamento.

Mas a dúvida é:

Será que esse amor tem chance de ser um dia correspondido? É possível um homem verdadeiramente heterossexual querer se relacionar fisicamente ou emocionalmente com um gay?

A questão é polêmica e divide opiniões.

Confesso que, durante muito tempo, a minha resposta seria um não bem dado. Só que, quanto mais a gente aprende, lê, conhece e conversa, entende que a sexualidade não cabe em embalagens tão simples de serem rotuladas.

Isso porque a nossa “fauna” é rica em diversidade. Ela inclui g0ys, SMSM (straight men who have sex with other men, ou homens heterossexuais que fazem sexo com outros homens), os heteroflexíveis, a galera do “faço tudo, menos beijar” ou do “não sou gay, só como”. Sem falar nos bissexuais, que estariam em uma posição intermediária entre homo e hétero.

Como, então, a masculinidade intocável explica todas essas manifestações de desejo? Isso a Globo não mostra.

A história do Gustavo

O Gustavo (nome fantasia), leitor aqui do site, é um desses casos misteriosos que nem a ciência palpita. 24 anos, administrador de empresas, boa pinta e uma pergunta martelando na cabeça.

Ele me procurou um dia com o seguinte problema: não sei o que eu sou.

Como assim, Gustavo?!

Resumindo a história, o Gus sempre se relacionou com mulheres. E sempre sentiu tesão e atração por elas, o que segue igual até hoje.

Porém (é claro que tem um porém), uma dessas noites loucas da época de faculdade bagunçou completamente a sua vida…

Ele ficou muito bêbado e acabou transando com um colega de aula. Sim, penetrou um brioco pela primeira vez, de uma forma completamente inesperada e nada planejada.

Se ele se arrependeu no outro dia?

Não!

E isso foi o mais intrigante.

Pelo contrário, o Gustavo curtiu muito a experiência. Disse que nunca se sentiu tão desejado como naquele dia.

Só que, mesmo assim, continuou se reconhecendo como hétero.

E não foi por homofobia, preconceito internalizado, nem nada disso. Ele bem tentou ver pornô gay, tentou se masturbar vendo revista de caras pelados, mas tudo isso não lhe fez sentir nada.

Sua preferencia continuou sendo por mulheres. E, por isso mesmo, ficou tão confuso.

Como seria possível desfrutar de uma transa gay sendo heterossexual?

O que estava acontecendo com ele? Isso é normal? Ou seria só uma fase estranha?

Os 5 homens que se relacionam com gays e são  verdadeiramente héteros

Para entender por que alguns homens heterossexuais desenvolvem comportamentos homossexuais, é preciso antes levar em consideração a realidade em que estão inseridos, o ambiente familiar e, óbvio, as suas histórias pessoais.

É importante notar que as fantasias sexuais e os interesses eróticos podem funcionar como extensões da nossa identidade central. Sim, eles são um reflexo do passado e, muitas vezes, surgem como tentativas mal sucedidas para resolver problemas da infância.

E isso não sou só eu quem está dizendo…

É algo comprovado pelas maiores referências em psicologia no mundo.

O psicoterapeuta americano Joe Kort é uma dessas autoridades no que diz respeito a relacionamento entre pessoas do mesmo sexo – além de um dos meus mestres, claro. Ele já atendeu milhares de homens gay com todos os tipos de problemas e situações, ou seja: tem muita bagagem e experiência para compartilhar.

Aqui algumas das razões identificadas por John que fazem caras heterossexuais buscarem relacionamentos homossexuais:

#1. O homem que sofreu algum tipo de abuso sexual na infância

Isso é conhecido também como Homossexual Imprinting (não há uma tradução boa para o português, mas seria algo como “impressão” ou “carimbo” homossexual).

Um imprint, na psicologia, é uma marca deixada a partir de um comportamento ou atitude durante a fase de aprendizagem. O termo é usado com frequência para descrever situações em que um animal ou pessoa aprende as características de algum estímulo e fica, então, “carimbado” para aquilo.

No caso de homens que sofreram algum tipo de abuso sexual na infância, esse carimbo também acontece.

Eles não desejam sexualmente, nem têm a atração despertada por outro homem. Mas, instintivamente, reagem ao abuso que sofreram através de comportamentos sexuais homossexuais.

Em outras palavras, se um menino heterossexual é molestado por outro homem, ele pode querer “voltar à cena do crime” para entender a sua dor emocional e tornar-se menos frágil a ela. Quando o trauma é superado, no entanto, esse estímulo homossexual tende a desaparecer.

Ou seja: aqui não é uma questão de preferência sexual, é uma questão de abuso.

#2. O homem que está buscando experiências sexuais um pouco vergonhosas

Alguns homens heterossexuais têm interesse em práticas sexuais que muitas pessoas podem classificar “como coisa de viado”. Exemplo: bondage, fio terra, penetração com pau de borracha e por aí vai…

Então, para não correr o risco de ficar mal falado pelas mulheres, eles preferem realizar essas e outras fantasias com um homem.

Geralmente, pessoas assim são super sexuais e altamente “excitáveis”. Por isso, do mesmo jeito que conseguem se relacionar com um gay apenas pelo instinto físico, evitam qualquer envolvimento afetivo com a mesma facilidade.

#3. O homem que não teve uma figura paterna forte

Esse fenômeno é conhecido na psicologia como father hunger, traduzindo, “fome de pai”.

Muitos homens gays crescem sem ter uma presença paterna forte e, muitas vezes, são rejeitados duramente pelo progenitor.

Essa falta de afeto e atenção pode despertar neles um desejo de validação pela figura masculina. Buscam, então, carinho e compreensão na cama de outros caras como uma forma de ter a aceitação que não tiveram em casa.

Faz sentido?

Pois é…

Depois que essa “fome de pai” for saciada, a tendência é que o comportamento homossexual também desapareça.

#4. O homem que tem a necessidade de ser desejado

Esses são homens heterossexuais que são extremamente narcisistas e têm uma constante necessidade de atenção e aceitação.

Na maioria das vezes, são do tipo fanáticos por academia e corpo perfeito  – desses que param na frente do espelho de 5 em 5 minutos para checar se o bíceps cresceu.

E onde entra o desejo homossexual nisso tudo?

Simples! Eles veem nos gays uma forma de serem ainda mais admirados e adorados.

Não, eles não se sentem atraídos por homem. Se sentem atraídos pela cobiça. E só ela já é estímulo suficiente para fazer uma ejaculação acontecer.

Se eles dão trela para gay? Dão! Se dão uma trepada sem compromisso? Dão também.

Tudo que possa atrair mais elogios e tonar o seu corpo um incontestável objeto de desejo.

Mas por que essa necessidade tão forte de validação, você pode perguntar.

A explicação pode vir de muitas formas:

Uma rejeição traumática em casa, um bullying pesado no passado, um período muito acima do peso, uma baixíssima autoestima por uma razão específica…

Aí é necessário analisar caso a caso.

#5. O homem que está preso

Ok, não é novidade para ninguém que as relações homossexuais imperam em todos os presídios deste mundão.

O motivo é óbvio: muita testosterona acumulada, muita carência sexual (e também afetiva) e nenhuma mulher disponível para dar conta do recado. É o clássico não tem tu, vai tu mesmo.

De todas as formas, vale incluir aqui. Afinal, homens nessa situação também conseguem se relacionar com outros. Conseguem beijar, transar, chupar e, às vezes, até namorar na prisão.

E, claro, tudo devido ao contexto e realidade em que estão inseridos. Depois que cumprem a pena, voltam à ter a sexualidade de antes.

Concluindo…

É possível um gay conseguir se relacionar com um hétero? Como vimos aqui, em casos bem específicos, é possível, sim.

Mas a pergunta é outra:

Vale a pena?

Sinceramente?

Um coração partido, provavelmente, é o que te espera no futuro. Pode ser que ele até desenvolva uma quedinha por você. Pode ser que ele até fique com você um tempo. Com muita sorte, ele pode até se apaixonar…

Mas, a menos que você faça uma operação de mudança de sexo, esse rolo provavelmente não vai durar muito.

Não se iluda!

O fato de “pegar alguém” não define a personalidade do “pegador”, por mais que insistam em dizer que sim.

Ser “gay” é muito mais do que simplesmente “querer transar com homem”, porque envolve uma série de experiências sociais bastante específicas. Da mesma forma, não serão episódios pontuais ou desejos reprimidos que transformarão alguém hétero em algo novo.

O arco-íris da sexualidade tem muito mais do que sete cores. Entre a heterossexualidade e a homossexualidade, existem tantas nuances quanto desejos.

Seres humanos não são tão simples.

E, se você gostou e se identificou com alguma parte deste artigo, não deixe de ver o vídeo: