“Se ele fosse mais magro, seria bonito”, “Até que o rosto dele é bonito, mas precisava ser mais forte”, “O boy até é gostoso, mas aquele cabelo não dá…”
Já parou para reparar que estamos o tempo todo julgando? Ou são aqueles quilos a mais, ou aqueles quilos a menos. Ou é o sorriso feio, ou é o cabelo desajeitado, ou é a pele branca demais.
O fato é que o ideal nunca existe. Parece algo quase sempre inatingível.
Daí você olha os panfletos ou posts de divulgação de festas gays e o que encontra? Homens descamisados, altos e sarados.
Vai dar aquela conferida no YouTube ou no Instagram, e se depara com perfis “famosos” de casais gays – todos lindos, definidos e bronzeados, claro.
Chega no posto 9 na praia de Ipanema, point LGBT no Rio de Janeiro, e tem a sensação de que os gays lá foram clonados. Todos têm o mesmo corpo, o mesmo corte de cabelo e usam o mesmo tipo de sunga.
Acho que é inegável que alguns – quer dizer, muitos – boys são obcecados por aparência, né?
O que dizer daquela barbie da academia que só fica com outros bombados? E daquele coroa que só quer garotões mais jovens? E daquele outro cara, então, que só usa roupas de grife e só se relaciona com pessoas que também se vistam assim?
Que o meio gay tem padrões altíssimos de beleza, isso já não é novidade para ninguém. A estética desejada é essa que a gente já conhece: homem forte, jovem e másculo.
Agora, a dúvida é: por que isso acontece?
Há quem diga que é porque esse ideal é o que mais se aproxima do que se entende como “homem masculinizado”.
E, claro, o homem masculinizado é o padrão que atrai a maioria dos gays por um motivo simples: eles foram criados por héteros e estão inseridos numa sociedade também hétero. Desse modo, absorveram a noção do que é ser homem a partir da visão deles (pais e sociedade).
Também muitos gays querem parecer o mais masculino possível para se afastarem do estereótipo do gay afeminado e, assim, “enfrentar” o preconceito com menos dificuldade.
Outra verdade que ninguém gosta de dizer é que o parceiro amoroso também funciona como uma espécie de troféu social, em que a beleza tem um papel fundamental para que esse status aumente ou diminua.
Em outras palavras, o prestígio de ter fisgado um boy magia bonitão é quase um sinal de poder pessoal, que insinua uma habilidade secreta por ter realizado tamanho “feito”.
Paradoxalmente, esse mar de homens exigentes que habitam a cena gay são os mesmos que estão perdidos e desesperados pela mesma busca de aceitação.
Contraditório, não?
Leia também:
[O gay padrão e a crise de autoestima entre homens gays]
Qual é o seu conceito de beleza?
Outro dia recebi um email de um leitor com a seguinte dúvida: “como vou arrumar um namorado, se sou pobre e feio?”
Foram essas as exatas palavras utilizadas, acreditem.
A minha resposta?
“Caro leitor, o que é ser bonito e rico para você?”
Acho que é isso que falta no mundo gay e na sociedade como um todo: falta esclarecer conceitos.
Posso estar errada, mas uma pessoa rica para mim não é aquela que tem rios de dinheiro. É a que tem saúde, valores e, principalmente, a que é rodeada de muito amor e carinho.
Pare e pense: de que adianta ter a conta bancaria recheada, se faltam pessoas, tempo ou condições físicas para aproveitar tudo isso?
É o clássico caso do executivo de sucesso que nunca tem disponibilidade nem relacionamentos duradouros, porque se dedica 100% ao trabalho. Daí morre jovem de ataque cardíaco. Será que ele foi rico de verdade?
Da mesma forma, a beleza não é medida em músculos ou quadradinhos na barriga. Beleza tem a ver com princípios, tem a ver com educação, com caráter e com tantas outras características que nem o melhor personal trainer pode oferecer.
A triste realidade é que vivemos numa cultura que superestima a aparência e subestima as virtudes que de verdade importam.
Quem disse que para conquistar alguém é preciso ter o corpo sarado e usar só cueca de marca?
O que fazer se eu não sigo o padrão vigente?
Vamos falar sério: ninguém é totalmente satisfeito com o seu corpo. Até o mais atlético gostaria, no fundo, de mudar uma coisinha ou outra.
Mas, muito acima de qualquer detalhe superficial como um pneuzinho a mais ou a menos, o que importa mesmo é se aceitar. Se olhar no espelho e gostar do que vê. Pensar: eu não desejaria ser mais ninguém além de mim mesmo.
Quer saber a verdade? Uma boa parcela dos gays valoriza tanto o corpo porque é muito mais simples malhar o tríceps do que a cabeça… Bem mais fácil esconder os problemas por baixo de uma imagem modelo fitness, não é?
Por isso é tão difícil encontrar gays que exercitem ambos, corpo e mente.
Não tô dizendo aqui que todo cara que se preocupa com a aparência é problemático. Claro que não! Mas aquele que faz dela um pré-requisito para ser feliz, esse sim.
Você não segue os padrões implicitamente vigentes?
Sem problemas!
Se existe uma beleza que você deve buscar incansavelmente, é a beleza interior. É ela que vai fazer a diferença na hora de conquistar os seus objetivos de vida, sejam eles quais forem.
Bumbum duro, ombros largos e barriguinha trincada? Isso até é bonito, mas não dura por muito tempo.
Lembre-se: depois de certa idade, o que fica mesmo é o que está do lado de dentro.
Por um mundo gay com mais diversidade
O meio GLS prega tanto o respeito ao diferente na bandeira, nos slogns, nas campanhas, mas parece esquecer de propagar a mesma mensagem internamente.
Então, vamos buscar isso de fato: DIVERSIDADE.
Que existam gays de vários tipos. Que vivam os gordos, os magros, os masculinos, os afeminados, os sarados, os barrigudos.
Que viva a diversidade e que se considerem lindas todas as formas de beleza.